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A operação carne fraca e sua relação com a culpabilidade do ex-presidente Lula

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Desde sexta-feira, estou lendo cobras e impropérios, inclusive de jornalistas, contra a mídia brasileira. A mídia é o demônio do Brasil. Sempre foi. Onde há suspeitos, investigados e, sobretudo, culpabilidade, procura-se, de imediato, desacreditar a mídia. Esquecem, porém, que a mídia trabalha a partir e em cima de fatos e, descontados exageros que sempre existem em busca dos níveis de audiência, não é a mídia que cria os acontecimentos. Ela os noticia. E não está sendo diferente no tocante à chamada Operação “Carne fraca”, desencadeada pela Polícia Federal.
Vamos aos fatos. Na sexta-feira, o assunto do dia era o desencadeamento da Operação e seus desdobramentos. E a mídia os divulgou tal como tudo ocorreu, sempre tomando o cuidado, inclusive, de ouvir os dois lados do acontecimento. Se houve precipitação e exagero nas colocações, não foi exatamente da mídia, mas das fontes que conduziram as investigações, no caso, a Polícia Federal. E, gostemos ou não, a PF é autoridade e, mais que isso, uma entidade que ganhou, pode-se dizer, superpoderes em função do trabalho desenvolvido em outras operações, mais precisamente o mensalão e a lava-jato.
Sempre admirei e aplaudi o trabalho da Polícia Federal em favor da moralidade e no combate a todas as formas de corrupção. Mas também não hesitei em condenar atitudes que considerei exageradas e sensacionalistas na condução das investigações. E um dos fatos que critiquei arduamente foi a espetacularização promovida pelo procurador Deltan Dallagnol quando da apresentação do power point que colocou o ex-presidente Lula como chefe de organização criminosa e principal responsável por toda a corrupção havida na Petrobras. A manifestação do procurador foi tão agressiva, que, não por menos, poderá resultar em indenização no valor de 1 milhão de reais a Lula por “injustificáveis ataques à honra, imagem e reputação, com abuso de autoridade”. E tanto faz sentido o pedido de indenização que, até agora, Lula continua leve e solto, sem que a PF conseguisse provas cabíveis e consistentes de que o ex-presidente é realmente o responsável por tudo o que foi afirmado.
Não vi, entretanto, o mesmo estranhamento pelos que, então, faziam questão de não ter qualquer dúvida no tocante à culpabilidade de Lula. Para eles, tanto PF e mídia cumpriram seu papel. Vejo, todavia, que, quando a questão é a “carne fraca”, a opinião mudou. A PF agora agiu de forma equivocada, e a mídia foi precipitada e sensacionalista.
Ora, como disse, não discordo que houve certo exagero na repercussão dos fatos. A mídia sempre agiu e vai continuar agindo dessa forma, divulgando com exaustão quaisquer fatos novos que vierem à tona, sobretudo se neles perceber interesse público e, consequentemente, potencialidade de audiência. Cremilda Medina já dizia que “a notícia é um produto à venda”, e, quanto maior a repercussão de um fato, mais vende. Estou mais que de acordo, entretanto, que a Polícia Federal, que subsidiou a mídia com elementos fartos de suas investigações, pode sim ter se equivocado na interpretação de suas escutas e generalizado casos pontuais de desvios de conduta e corrupção, condenando todo um setor reconhecido por sua credibilidade, forte criação de emprego e geração de muitas divisas ao país. A mídia, aliás, já tratou de reconhecer isso, ouvindo os dois lados e corrigindo distorções. Pelo âmbito da Polícia Federal, todavia, ainda não ouvi nenhuma declaração reconhecendo precipitação e equívocos.
O que, portanto, posso tirar de lição disso tudo? Para ser honesto, e quero sê-lo, perdoem-me os apaixonados políticos e sectários, mas, se a Polícia exagerou agora, chego à constatação, sim, de que Lula tem suas razões em muito do que afirma, de que a PF comete exageros e mesmo injustiças em suas afirmações, o que eleva, aliás, sua condição de vítima. Não por menos é que, e os números das pesquisas têm constatado isso, enquanto as investigações não apresentarem provas definitivas que comprovem a culpabilidade do ex-presidente, ele só cresce nas pesquisas que tentam antever a próxima eleição presidencial. E a mídia não tem escondido nem negado isso.
Não quero aqui inocentar nem santificar a mídia. Chamo a atenção, sim, para algo mais sério e preocupante, que é a própria desmoralização das operações da Polícia Federal. Se ela errou agora, no que se refere à “carne fraca”, pode muito bem estar cometendo erros também no tocante à “lava-jato”. Como disse, quero ser honesto. Não me vinculo a nenhuma legenda ou organização partidária, também não simpatizo com nenhuma delas. Antes acredito no trabalho e na intenção de pessoas honestas até que deixem de sê-las. E, por isso, não me apresento como um apaixonado em defesa de uma ou outra causa. E, portanto, gostaria de ver também amigos jornalistas e integrantes da Polícia Federal agindo da mesma forma, ou seja, com mais razão e menos emoção, com mais isenção e humildade, e, sobretudo no caso da PF, com menos precipitação e sentimento de que são os donos do mundo e tudo podem. Gostem ou não gostem, os investigadores da Polícia Federal podem ter dado um tiro no próprio pé e isso só servirá para abalar parte da credibilidade que tanto têm conquistado até então. Infelizmente, para o prejuízo geral da Nação.

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