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OPINIÃO: Da reivindicação justa à prática de milícias. Será que é esse o Brasil que os caminhoneiros querem?

LEANDRO RAMIRES
 
Jornalista e Doutor na área da comunicação; professor da Unipampa. 
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OPINIÃO – POR LEANDRO RAMIRES – JORNALISTA – Pobres dos caminhoneiros. A greve, inicialmente justa, passa a perder todo o sentido diante do radicalismo e da agressividade dos que não entenderam o propósito do movimento e, por um momento, passaram a acreditar que um empoderamento momentâneo poderia, inclusive, ditar os rumos políticos e econômicos do país.
Primeiro quero aqui deixar claro que eu, como a quase totalidade do povo brasileiro, também estou de saco cheio com a corrupção, as mazelas políticas e a leniência do judiciário, que demora a prender os ladrões da pátria e, quando prende, torna a soltar, fazendo o povo de pateta, mero pagador de impostos.
Mas daí a acreditar que o autoritarismo, a agressividade, a covardia é a solução, há uma distância muito grande. Intervenção e regime militar, já disse aqui, é um disparate. Primeiro porque os próprios militares de hoje abominam a ideia. Segundo, porque é uma prática ultrapassada, descabida, equivocada, que não tem mais lugar no mundo contemporâneo. Olhem para a Europa, Estados Unidos, Canadá, Japão, a própria Rússia. Ninguém mais admite um governo militar. Não teríamos o reconhecimento da ONU, perderíamos a credibilidade internacional, seríamos banidos pelo mercado e decretaríamos a falência definitiva de nossa economia. Terceiro, porque os próprios caminhoneiros, que protestam nos trevos e margens das rodovias, seriam os primeiros a tomar cacete e a apodrecer no fundo de uma masmorra.
Tudo bem que temos pressa. Eu também tenho. Assim como os caminhoneiros, quero um país justo e igualitário, sem corrupção, com menos impostos e mais bem estar para o povo brasileiro. Mas teremos que construir isso pela democracia, pelo voto correto, pela pressão popular, até onde a legislação e a racionalidade nos permitem chegar. Por isso, achei bacana o movimento dos caminhoneiros e aplaudi até o momento em que as reivindicações, justas e corretas, foram atendidas. O problema é que daí, então, alguns “iluminados”, inclusive com interesses que não se diferenciam em muito dos corruptos que usurpam a coisa pública, acharam que, diante da fraqueza governamental, podiam simplesmente tomar a Nação de assalto pelo arbítrio e em nome de causas que, não se enganem, não refletem os interesses da coletividade, como querem dar a entender e empurrar goela abaixo dos cidadãos de bem deste país.
As cenas de caminhoneiros sendo impedidos de prosseguir suas viagens, tendo que arcar com custos vultuosos e impagáveis, e a selvageria desmedida por parte de alguns grupos mais exaltados partindo para a agressão contra seus próprios companheiros só fazem por causar repulsa e indignação. Isso sem falar nos bilhões de prejuízo e nos milhões de brasileiros prejudicados pelo radicalismo e exaltação. Infelizmente, o fanatismo que toma conta de alguns grupos, muitos manipulados por interesses escusos, inclusive de uma ou outra empresa de transporte poderosa que os usa de massa de manobra, põe em xeque toda a credibilidade de uma manifestação que começou bem e tinha tudo para terminar melhor ainda. A teimosia e o radicalismo que agora surgem só fazem por desmerecer a classe e ameaçar as próprias conquistas alcançadas, devido aos prejuízos monstruosos que a greve está causando. Sem falar na perda de apoio popular ao movimento, que passou dos limites e caminha para seu esgotamento.
Vocês não gostam do Temer. Eu também não. Mas, convenhamos, não é mais hora de pensar em derrubada de governo. A eleição está aí. Vamos pressionar os candidatos e fazer verter propostas no mínimo satisfatórias, que possam reverter os rumos do país pela aplicação de ideias inteligentes e pelo fortalecimento da democracia e não pelo contrário. Não vamos terminar de enterrar o Brasil, um país que precisa de mais razão e menos emoção.

 

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