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Vamos parar com essa bobagem de que o povo brasileiro é fascista e não sabe votar

Deputados Jair Bolsonaro e o filho Eduardo. Foto Orlando Brito
Bolsonaro, por imensa vontade do povo brasileiro, quase levou a eleição no primeiro turno. Desde então, não canso de ouvir lamentações, desabafos, diretas e indiretas acusando a imensa maioria dos eleitores de fascistas e analfabetos políticos.
E a maior parte das agressões verbais parte justamente de pessoas que vivem falando em nome da democracia, que pregam o bem comum, que se julgam os mais sábios e, pelo menos no discurso, têm a receita para a paz universal e a salvação da humanidade. Enfim, aqueles que sempre estão certos e  que olham com um ar de desprezo quem pensa diferente.
Alguns, ou muitos, para justificar sua atitude, tomam como muleta astros do show business, que movimenta bilhões de dólares, que vivem como reis e rainhas, e que não entendem nada das problemáticas locais, de nossas mazelas políticas e não estão nem aí para o povo brasileiro. Mas o palpite oportunista faz parte do espetáculo. E por falar em oportunismo, juntemos aí os artistas globais das novelas que só promovem a ganância, a violência, o ódio e a desagregação familiar, e por isso e muito mais, junto com suas emissoras, são tão criticados. Engraçado que agora, quando se manifestam em favor de um determinado candidato, viram heróis e são tomados como referência do bem. Muitas dessas referências, aliás, temendo perder o benefício de generosos editais de apoio à uma cultura muitas vezes duvidosa e eivada de vícios, desvios e corrupção.
Sou oriundo de um Estado que é vice-campeão em qualidade de vida e o que apresenta menor desigualdade de renda. Curiosamente, esse é o Estado que, no primeiro turno, deu o maior percentual (65,82%) de votos ao presidenciável tido como fascista. E, por consequência, agora são tomados como fascistas também seus habitantes, ou, pelo menos, a maioria deles. A terra em que me criei tem várias indústrias, a maior delas, que eu também chamava de “exploradora” de mão-de-obra do trabalhador quando eu era um universitário ingênuo de linhagem comunista, gerou e gera tanto emprego e renda que a cidade tem um dos melhores IDHs do Brasil e sempre aparece na lista das cinco melhores para viver. Lá, o dito cujo também teve uma votação expressiva (65,49%) no primeiro turno.
Não quero dizer com esses índices que os catarinenses e concordienses são melhores que os habitantes das demais regiões do Brasil e nem ficar condenando quem votou em A ou B. Eu mesmo não votei, porque optei, no dia da eleição, deixar a cidade em que atualmente resido e colaborar com a cobertura eleitoral de uma emissora de rádio (Atual FM) da minha terra natal. O que eu apenas quero com esses dados é chamar a atenção para o fato de que como um Estado e uma cidade de padrão de vida tão igualitário e de uma solidariedade invejável (não sou só eu que penso assim) pode, da noite para o dia, ter “virado fascista”.
Eu construí minha vida em Concórdia. Ao longo da minha carreira profissional, penso que dei grande contribuição ao jornalismo e à educação de minha cidade. Nada tenho a reclamar do lugar que me deu tantas oportunidades e que só deixei pelo ideal do ensino e da pesquisa em jornalismo numa universidade federal (quando me demiti, aliás, fui ganhar um salário bem menor do que então recebia na instituição em que atuei por mais de 20 anos). Vivo hoje e gosto muito do Rio Grande do Sul, mas algumas coisas de meu lugar de origem me dão muitas saudades, como, por exemplo, a determinação e a vontade daquela gente de correr atrás de seus ideais, de empreender e realizar, sem achar que o Estado e as políticas de governo é que devem fazer tudo por elas. Tudo o que querem e pedem é um sistema político justo, honesto e menos oneroso, que os deixem trabalhar, apenas isso, e que o governo e seus representantes políticos não desviem pelo ralo da corrupção o suor de seu trabalho e os calos de suas mãos.
Estaria eu sendo injusto se dissesse que no Rio Grande do Sul não é assim também. E a colonização de minha cidade é quase inteiramente gaúcha. Mas o que mais tenho visto nos últimos tempos, em determinados segmentos, é, mais que políticas e estratégias de governo, uma eterna lamúria por esmolas e choromingação por cotas e mais benefícios para classes, raças e gêneros, quando a mera geração de emprego e a distribuição de renda resolvem tudo. Lembro que na minha cidade ninguém, até então, reclamava e blasfemava por igualdade de gênero, raça ou religião. Todo mundo ganhava conforme a função que exercia e não importava se era negro ou branco, homem ou mulher, católico ou evangélico, hetero ou homossexual. E todo mundo se respeitava e ninguém precisava fazer passeata, carreata ou beijaço para provar que era melhor ou pior que seu semelhante.
É, o mundo mudou. E o Brasil também. E então nós estamos aqui, agora, brasileiros, digladiando-se em favor de um ou outro candidato e acusando-se mutuamente de fascistas e comunistas, quando tudo o que deveríamos fazer é zelar para que o futuro presidente do Brasil seja íntegro, honesto e queira de fato resolver as mazelas de nossa Nação, garantindo ao nosso povo trabalho, renda e qualidade de vida, zelando pela igualdade social e por políticas públicas que assegurem os serviços básicos e de qualidade ao cidadão. Não precisa muito mais que isso. E, para aqueles que acham que o “fascista” não reúne tais condições e não tem capacidadade e propostas para fazer um Brasil melhor, fiquem sabendo que o “comunista”, assumidamente guiado por políticos corruptos, pertence a uma legenda e uma trupe que, ao longo dos 14 anos que ficaram no poder, não conseguiram, nem de longe, resolver os problemas do país, deixaram uma corrupção sem precedentes, uma taxa de desemprego elevadíssima e um descrédito econômico à beira do caos, com a insegurança campereando em todos os cantos do mapa e a miséria e a injustiça crescendo a cada dia, a ponto de transformar o que era esperança em medo e desalento.
Os “fascistas”, portanto, meus caros, podem até vir a errar, mas não podemos, de forma alguma, condená-los por acreditar num país melhor e por tentar mudar o que, concordemos, não está nada bom. Ceifar a tentativa de mudança e a esperança por um Brasil melhor, isso sim é que é FASCISMO.

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